sexta-feira, 31 de julho de 2009

Adam & Eve - Capítulo 2


Assim que chegou em casa Eve lembrou-se que seu padrasto chegaria tarde para o jantar, resolveu não fazer o jantar naquela hora. Então subiu e se deitou na sua cama. Contemplou o teto por alguns segundos e depois pensou nas palavras e no rosto de Adam. Lembrou-se do modo com ele a tratou, foi tão delicado, cuidadoso, como se estivesse manuseando uma flor.

Eve gostou disso, ela se sentiu valorizada, sentiu que Adam não a desprezava. Ela sorria enquanto pensava. Ficou horas sorrindo e sonhando acordada, depois percebeu que o tempo tinha passado e que já estava na hora de fazer o jantar.

Desceu e foi direto para a cozinha. Assim que terminou de fazer o jantar Joseph chegou.

– Oi, ah, você acabou de fazer o jantar? O que houve? Não chegou tarde, chegou? – Perguntou Joseph.

– Não, é que eu deduzi que você fosse chegar mais tarde hoje por causa do trabalho – respondeu Eve.

– Entendo. Bom, então vamos comer.

Eles comeram normalmente como se nunca tivesse havido nenhuma discussão nesta casa. Até tiveram uma pequena conversa:

– Então, como foi a escola? – Perguntou Joseph.

– Normal. Tive uma prova, não estava muito difícil. Eles disseram que semana que vem vai ser a entrega do boletim.

Eles terminaram a conversa nesse ponto, Eve não contou sobre o que aconteceu com o diário, ela sabia que se Joseph soubesse que ela gostava de Adam provavelmente a trancaria no quarto e jogaria a chave fora. Joseph não queria que Eve tivesse nenhum namorado, ele não queria que ela o deixasse só e corresse o risco de engravidar precocemente, mas ela não pretendia deixá-lo controlar sua vida para sempre. Ela tinha o sonho de fazer arquitetura e aprender a tocar piano.

Depois de comer, Eve lavou a louça. Joseph ficou vendo televisão enquanto isso. Assim que terminou subiu para o quarto e resolveu escrever no diário novamente:

Ontem este diário foi roubado, por isso a outra folha não está terminada e tem um risco enorme nela. Mas ele já foi recuperado, foi devolvido a mim por Adam. Ele soube que eu escrevi sobre ele e quis saber o que foi e eu tive que contar, não tinha saída. A notícia boa é que ele teve uma das melhores reações que eu pude imaginar. Ele não riu nem quis que eu fosse embora sem que ele pudesse dizer alguma coisa reconfortante. Eu não sei se ele fez isso por ter sentido pena de mim ou se ele é realmente o cavalheiro que eu imagino. Dúvida cruel...

Fiquei feliz com isso, apesar da namorada dele ter chegado e atrapalhado a nossa conversa. Fiquei com um pouco de raiva da Stacy quando ela fez isso, mas eu não a culpo. Com um namorado desses qualquer uma não ia querer sair de perto. (...)

Ela ficou escrevendo durante horas. Enquanto isso Adam voltava para casa depois de ir com Stacy ao shopping. Quando chegou, seus pais tinham uma surpresa:

– Oi mãe, oi pai.

– Adam, temos uma notícia que você vai adorar. – Disse a mãe dele.

– O que? Vou ganhar um computador novo? – Disse Adam brincando.

– Talvez, mas não é isso. A carta da universidade chegou. Você faz as honras? – Disse o pai de Adam mostrando-lhe a carta.

Adam pegou a carta, abriu-a e leu em voz alta:

– “Caro senhor Williams, estamos felizes de anunciar que o senhor foi aceito na Universidade de Design Gráfico...” – Adam mal leu a carta e já estava com um grande sorriso no rosto.

– Parabéns querido! – Disse a mãe de Adam.

Os pais de Adam estavam tão felizes quanto ele. Eles sabiam o quanto o filho queria entrar nessa universidade. Eles o abraçaram e depois Adam subiu para o quarto.

Leu e releu a carta várias vezes para ter certeza de que não era um sonho. Começou a pensar em Stacy. Pensou qual seria a reação dela ao saber essa notícia. Então resolveu ligar para ela:

– Alô, Stacy?

– Oi amor. Experimentei o vestido com os sapatos, ficaram lindos! Vou ser a garota mais linda do baile. Talvez nós sejamos rei e rainha! – Ela deu um gritinho histérico

– Hum, legal. Mas você sabe que eu não me importo muito com esses concursos, eles só servem deprimir as pessoas que não ganham.

– Então é isso que você pensa sobre o concurso para rei e rainha do baile? – Disse ela com a voz raivoza.

– Sim e eu já te disse isso algumas vezes. E também já disse para você não se preocupar tanto com esse concurso, porque se você não ganhar...

– Como assim se eu não ganhar? É claro que eu vou ganhar, – disse Stacy interrompendo Adam – eu sou a garota mais bonita dessa escola! Se você não acha isso, por que namora comigo?

– Eu namoro com você porque eu gosto de você, não só porque você é bonita. Stacy, eu não quero brigar. Eu liguei para te contar uma surpresa, mas você nem ao menos me deixa falar.

– Surpresa? Conta! Conta! – Ela muda de humor subitamente ao ouvir esta palavra.

– Bem, é que eu fui aceito na universidade de design. – Disse ele sorridente.

– Ah, era isso? Isso não é legal como uma surpresa. Nós não vamos estudar juntos, eu nem sei que faculdade vou fazer. Você não pode fazer essa faculdade.

– Como assim eu não posso fazer essa faculdade? É o que eu mais gosto e quero fazer! – Ele sentiu raiva por ela querer impedi-lo de fazer o que ele mais gostava. – Você não manda em mim. Eu achei que você fosse ficar feliz por eu ter conseguido o que eu queria, mas foi um erro. Adeus. – E ele desligou o telefone sem esperar que ela respondesse.

Adam passou as mãos pela cabeça, deu um suspiro e deitou na cama. Ele não gostava de algumas coisas na personalidade de Stacy, como ser mandona, convencida e arrogante. Ela também fazia umas piadinhas de mau gosto sobre outras pessoas que ela não gostava e quase sempre estava pensando em si mesma. Ele não gostava disso e começou a pensar se o namoro deles realmente valia a pena. Tentou pensar nas coisas boas, mas como estava com raiva só conseguiu pensar nas ruins. Tentou pensar nos bons momentos que eles passaram, mas só conseguia pensar nos maus, como este.

Ele começou a cogitar a possibilidade de ele só gostar dela por ela ser bonita e inteligente, foram as únicas qualidades que vieram a cabeça dele. Ele pensou “talvez não seja amor, talvez seja só atração”. Ele lembrou-se de Eve nesse momento. Ele pensou um pouco “ela diz que me ama, talvez ela entenda a diferença entre amor e atração”. Depois pensou melhor e se sentiu um idiota, ele feriria os sentimentos dela se pedisse ajuda com o relacionamento dele com a Stacy. Ele não queria machucá-la, ela não tinha culpa de amá-lo e também não tinha culpa que ele tivesse um relacionamento problemático.

O fim de semana de Adam foi diferente do de Eve. No sábado, Adam saiu com os pais para comemorar a sua entrada na universidade. Já Eve passou o dia todo arrumando e limpando a casa. Ela gostava de ficar sozinha, tinha a liberdade de fazer o que quisesse sem ninguém para lhe reprimir. Era divertido, ela ligava o som bem alto para que pudesse ouvir a música de qualquer lugar da casa onde estivesse.

No domingo, Adam praticamente ficou o dia inteiro na frente do computador. Não quis falar com Stacy em nenhum momento, ainda estava com raiva. Eve e Helena haviam combinado de ir tomar sorvete e conversar, mas Joseph não queria que Eve fosse, porque ele achou que era alguma desculpa para ela se encontrar com algum namorado secreto.

Eve subiu para o quarto com raiva, ficou um tempo sentada na cama. Ao lembrar-se de ligar para Helena, pegou o telefone, mas ouviu um barulho de alguma coisa caindo no chão do andar de baixo. Desceu para ver o que era e ao chegar na sala viu uma garrafa de cerveja no chão, a televisão ligada e Joseph adormecido no sofá. Ela não era de fazer isso, mas aproveitou para dar uma escapada e se divertir, já estava cansada de abaixar a cabeça para o padrasto.

Ao chegar à sorveteria encontrou Helena em pé e olhando para os lados. Ela sorriu e foi falar com a amiga.

– Helena.

– Nossa, pensei que você não viesse mais – disse Helena cansada.

– Desculpe, Joseph achou que eu fosse encontrar com algum namorado. Bem que eu queria que isso fosse verdade.

As duas riram juntas e entraram na sorveteria. Eve pediu sorvete de chocolate e baunilha e Helena pediu de framboesa, eram seus preferidos. Elas escolheram uma mesa e começaram a conversa:

– Então, o que você disse a ele que o convenceu a deixá-la vir? – Perguntou Helena.

– Nada, um tempo depois ele dormiu no sofá e eu escapei. – Disse Eve sorrindo.

– Jura que você fez isso? Isso não é o comportamento de uma moça de família, dos anos 20 – brincou Helena

– Ah, pára, você sabe que eu tenho os meus sonhos. Eu não vou viver eternamente fazendo o que o Joseph quer.

– E quando e como você pretende dizer isso a ele?

– Quando eu estiver no último ano. Como eu não sei, mas se for preciso vou para uma faculdade longe daqui.

Elas ficaram em silêncio por um minuto até que Helena se lembrou do diário, então Eve contou o que aconteceu na sexta-feira e mostrou o diário escrito a ela. Helena ouviu a amiga e leu o diário. Ela ficou radiante com a notícia:

– Então, uma notícia boa – disse ela.

– É, mais ou menos – disse Eve tentando esconder o sorriso.

– Vocês ficaram amigos, já é um grande passo.

– É só amizade e eu acho que ele só disse isso para me confortar já que ele não podia me dar o que eu queria. Também acho que ele se sentiu meio culpado.

– Mas pelo menos ele se importou com você, você não é insignificante para ele.

– Talvez você tenha razão, mas eu ainda não sei o que pensar – disse Eve olhando o relógio de pulso. – Nossa, é tarde eu preciso ir antes que Joseph acorde – disse se levantando.

– Então, tchau – disse Helena dando um abraço caloroso em Eve. – Olhe para os dois lado da rua quando atravessar.

– Está bem, Helena – disse Eve sorrindo. – Tchau.

Ao chegar em casa não encontrou Joseph dormindo no sofá, logo entrou em pânico. Ela tinha certeza de que o padrasto a espancaria por ter saído sem a permissão dele. Logo após trancar a porta sem fazer barulho, ouviu o grito de Joseph vindo do alto da escada:

– Com quem você saiu? Aonde você foi? – Perguntou ele descendo a escada rapidamente.

– Eu disse que iria a sorveteria conversar com Helena! – Confrontou Eve.

– Venha aqui que eu vou lhe ensinar uma lição – disse ele já batendo em Eve. – Vou lhe ensinar a não mentir!

Por mais que Eve gritasse a verdade ele continuava a espancar a pobre jovem. Joseph estava possuído pela raiva e pelo álcool. Ele só parou quando percebeu que ela havia desmaiado. Então, ele subiu e foi dormir sem prestar nenhum socorro a ela.

Eve acordou no meio da noite com o rosto no chão. Por sorte ou milagre ela não quebrou nenhum osso. Ela se levantou, pegou a bolsa e foi até seu quarto. Lá ela pensou em escrever no diário, mas estava muito cansada e dolorida demais para escrever. Então largou a bolsa no chão, passou um remédio onde estava dolorido e foi dormir.

No dia seguinte, Eve acordou sentindo muita dor, mas ainda era menor do que a do dia anterior. Ela foi tomar banho sem olhar para o relógio. Depois que tirou toda a roupa percebeu que estava cheia de hematomas no corpo inteiro e ficou desesperada. Como iria para a escola assim? Foi rapidamente se olhar no espelho e ficou feliz em ver que não havia nenhuma marca no rosto dessa vez, logo foi tomar banho mais tranqüila.

Quando saiu do banho foi escolher a roupa. Era preciso cautela, pois nenhuma parte do corpo dela poderia aparecer, exceto o rosto e as mãos. Escolheu um jeans e o moletom lilás, felizmente não estava muito calor lá fora. Desceu e não encontrou Joseph, ele já havia saído para o trabalho. Mas também se encontrasse não seria diferente das outras vezes em que ele a espancava e no dia seguinte parecia não ter havido nada, provavelmente ela o ignoraria.

Como Joseph não havia feito o café da manhã, ela resolveu apenas tomar um iogurte e pegou uma maçã para comer no caminho para a escola. Saiu e foi andando. Ao chegar à escola percebeu que não havia ninguém do lado de fora. Ficou assustada, olhou para o relógio de pulso e percebeu que faltava quase meia hora para o sinal tocar.

Já que estava adiantada sentou-se de baixo de uma das macieiras da escola e tirou o diário da mochila. Escreveu a data e começou a escrever o que veio a cabeça:

Ontem tive que fugir enquanto Joseph dormia para poder ir tomar sorvete com Helena. Ele sempre acha que estou mentindo para me encontrar com algum garoto. Contei para ela o que aconteceu na sexta. Ela ficou muito contente em saber que Adam pediu para sermos amigos, mas eu acho que foi mais por culpa do que por ele ter me achado legal.

Quando cheguei em casa entrei em pânico, não vi Joseph dormindo no sofá. Fechei a porta com o maior cuidado, mas o ouvi gritando da escada. Perguntou onde eu fui e com quem, então eu respondi a verdade, mas ele nunca acredita em mim. Não é difícil imaginar o que aconteceu, ele me espancou, para variar (...)

Ela descreveu tudo o que aconteceu na noite passada e o ódio que sentia por Joseph descontar nela sua raiva. Escreveu durante mais ou menos 10 minutos até Adam chamar seu nome.

Eve olhou para ele surpresa. Ele foi a última pessoa que ela pensou que fosse interrompê-la.

– Posso me sentar ao seu lado?

– Claro – respondeu ela ainda assustada.

– Então, o que você está escrevendo? – Disse ele meio sem jeito.

– Tem certeza que você queria fazer essa pergunta? – Ela disse mais tranqüila.

– Por quê? Eu não posso fazer? – Ele disse um pouco envergonhado. Adam não sabia como conversar com Eve, tinha medo de dizer alguma coisa errada e por alguma razão não queria vê-la triste.

– Você não acha ela meio pessoal? – Disse Eve sorrindo.

– Desculpe, eu não... eu sou um idiota. – Disse ele abaixando a cabeça.

– Não diga isso, eu não acharia você um idiota nem que a escola inteira achasse isso – ela levantou o rosto dele. – E não se preocupe, não estou escrevendo sobre você.

– E por que não? – Disse ele no impulso.

– Porque eu estou escrevendo sobre o meu fim de semana e você não estava nele – disse ela o interrompendo antes que ele se desculpasse novamente, mas sem que ela quisesse a frase saiu meio arrogante, apesar de ela dizer isso sorrindo. – Desculpe se pareceu arrogante o que eu disse, mas não foi essa a intenção.

– Eu entendo, às vezes eu também digo algumas coisas sem pensar ou que não soam como eu queria, como agora a pouco – disse ele mais descontraído.

Os dois riram juntos. Ficaram alguns segundos sem falar e ficaram constrangidos com o silêncio. Quando os dois tentaram acabar com o silêncio acabaram falando juntos.

– Fala você primeiro – disse ela.

– Não, primeiro as damas – disse ele.

– Não, eu quero ouvir o que você tem a dizer.

– Está bem. Por que está de moletom? Não está tão frio.

– Porque... eu sinto mais frio que as outras pessoas.

– Ah. Sua vez.

– É uma pergunta óbvia. É melhor eu não perguntar.

– Ah, fala. Eu também quero ouvir o que você tem a dizer.

– Você... vai... levar a Stacy ao baile? – Ela disse de cabeça baixa.

– Eu não sei. Nós acabamos brigando na sexta e eu fiquei pensando se o nosso namoro realmente valia a pena. – Disse ele olhando para o prédio da escola.

– Você não está pensando em terminar com ela, está?

– Por quê? Você não acha uma boa idéia?

– Eu não vou mentir. Eu não ficaria triste se vocês terminassem, mas eu sei que a Stacy sonha com o dia do baile. Se você não a levar, talvez ela seja capaz de se suicidar. Por mais que seja contra minha vontade dizer isso, eu acho melhor você pelo menos levá-la ao baile e terminar depois, nas férias.

– É, acho que você tem razão, é melhor eu não terminar agora.

– Sem querer ser intrometida, por que vocês brigaram?

– Foi porque eu liguei para ela para contar uma novidade e ela só ficou falando sobre esse baile. Quando eu contei, ela desprezou totalmente a minha surpresa. A surpresa era que eu consegui entrar na faculdade de design gráfico.

– Nossa, que legal! Eu não sabia que você gostava disso, eu acho tão maneiro! – Disse Eve sorrindo.

– Sério? Eu adoro, eu nasci para ser designer gráfico! – Adam disse empolgado.

De repente os dois se assustam ao ouvir o sinal tocar. Estavam tão empolgados com a conversa que nem perceberam os alunos que passavam pelo gramado.

Adam ouve um de seus amigos chamá-lo.

– Eu tenho que ir, meus amigos estão me chamando. Quer ajuda com...

– Não, não, obrigada. Você vai acabar se atrasando. – Interrompeu Eve antes que ele terminasse a frase.

– Então... tchau. – Ele ficou com um pouco de vergonha, mas se despediu dando um beijo no rosto dela.

Ele se levantou e foi correndo até os amigos. Eve ficou parada olhando ele correr e andar, até que Helena chegou.

– Eve vamos, o sinal já tocou. Deixa eu te ajudar – disse ela.

Eve levantou, mas continuou olhando Adam entrar na escola enquanto Helena colocava as coisas dela dentro da mochila de lona preta. Depois as duas correram e entraram na escola.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Adam & Eve - Capítulo 1



Eve sentou-se de costas para a parede de sua escola, de frente para o gramado onde se via os alunos do último ano irem para casa. Eve era uma aluna do primeiro ano. Tinha os olhos e cabelos castanhos muito escuros, era magra e tinha o cabelo até o meio das costas. Ela olhava o campus a procura de uma pessoa, mas não a encontrou, então ela tirou seu diário da mochila de lona preta e continuou a escrever de onde havia parado:

...como eu já escrevi o professor de química faltou. – era a matéria que ela mais odiava – Pude ficar no ginásio, nesse tempo vago, olhando o Adam (suspiro), jogando basquete na aula de educação física. Ele é tão doce e meigo (uma vez na cantina nós dois pegamos a mesma maçã e ele disse “Desculpe, pode ficar. Ela é sua” e me deu a maçã.), não sei como ele anda com esses amigos estúpidos. Eles só sabem fazer bagunça e brincadeiras de mau gosto. Enfim, são uns idiotas. Mas eu não quero falar deles, quero falar do Adam.

Hoje ele estava de azul igual a mim, essas coincidências acontecem com freqüência. É engraçado, parece que nós temos uma sintonia e... – De repente Eve sente seu diário sendo puxado para cima, o que faz a caneta deslizar e riscar o resto da folha.

– Mas o que é isso? Um diário? – Kevin pergunta a si mesmo.

Eve Gray tem um diário. – Disse Lewis.

Kevin e Lewis eram os amigos de Adam Williams. Esses dois adoravam fazer brincadeiras com os calouros, quando eram pegos eram punidos pela diretora da escola, mas isso não era freqüente.

– “...pude ficar no ginásio, nesse tempo vago, olhando Adam...”, Adam? – Questionou-se Lewis.

– Ah, ela gosta do Adam. Que romântico, um amor impossível. – Zombou Kevin.

– Ei, rapazes o que estão fazendo? – Adam pergunta. – Estão assustando um dos calouros de novo? Eu não já disse para vocês pararem com isso?

Eve olha assustada para os três rapazes em pé.

– Olha Adam, ela escreveu sobre você. – Diz Kevin.

Adam olha para Eve e nesse mesmo instante, ela pega sua mochila e sai correndo chorando.

Ao chegar em casa Eve sente um alívio como se o seu pior pesadelo tivesse acabado. Mas ele tinha apenas começado. Sentado no sofá estava seu padrasto alcoólatra Joseph. Mas ele nem sempre foi assim:


Flashback:

Joseph era um rapaz bondoso e temente a Deus quando conheceu a mãe de Eve. A mãe de Eve, Justine, era uma ex-prostituta drogada que não valia o chão que pisava e estava grávida. Joseph a conheceu numa clinica de reabilitação na qual ele era voluntário. Ele conversou com ela e inicialmente teve pena da vida que ela tinha levado, mas depois, ao longo dos dias em que eles conversavam, surgiu uma paixão tão grande que Joseph pediu-a em casamento assim que ela saiu da reabilitação.

Eles se casaram e alguns meses depois nasceu Eve, o nome foi sugerido por Joseph. Oito anos depois o amor de Joseph e Justine não era mais o mesmo, eles estavam quase sempre brigando e isso incomodava muito Eve.

Um dia Joseph acordou e Justine não estava em lugar nenhum da casa. Quando Joseph voltou para o quarto encontrou um bilhete de adeus de Justine, dizendo que estava partindo para outro país com outro homem. Joseph caiu em depressão e começou a beber. Ao longo dos anos ele colocou Eve para cuidar da casa mesmo sendo pequena, enquanto ele tentava arranjar um emprego fixo, o que nunca conseguiu. Quase sempre quando Eve voltava da escola ele estava bêbado. Eles acabavam brigando e Joseph batia em Eve, algumas vezes quebrava o braço ou alguma costela da pobre menina.


Ele estava assistindo televisão com uma garrafa na mão e começou a resmungar:

– Você acha que a casa é só sua e que pode chegar a hora que quiser? Ande logo! Não fique aí parada, o jantar não vai ser feito sozinho.

Eve foi para a cozinha fazer o jantar, qualquer coisa era melhor do que ouvir os resmungos de Joseph e ficar parada ali poderia causar mais uma briga.

Ela fez o jantar e pôs na mesa, comeu rápido sem motivo. Depois de terminar de lavar a louça foi até a sala para subir para o seu quarto, mas um papel no braço do sofá chamou sua atenção e foi lê-lo.

– Conseguiu o emprego? – Perguntou a Joseph.

– Sim, por quê? – Disse ele.

– Fico feliz por você. – Respondeu ela.

Joseph deu um sorriso em resposta. Apesar de ser alcoólatra e bruto, Eve ainda sentia que Joseph ainda a amava como uma filha mesmo ele dizendo o contrário quando brigavam.

Eve subiu para o quarto e assim que chegou lá se lembrou do que havia acontecido na escola. Sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos, como se pudesse se esconder ou desfazer aquela cena horrível. Começou a pensar em mil possibilidades do que poderia ter acontecido depois de ela ter saído correndo:

Será que Adam leu o que eu escrevi? Eles devem estar tirando sarro da minha cara neste exato momento. Eu não vou agüentar saber que Adam sabe dos meus sentimentos mais profundos... – Adam era o amor da vida de Eve, ela sabia disso porque não houve outro sentimento igual na vida dela. Era um sentimento tão forte e doloroso e ao mesmo tempo tão bonito. Eve amava Adam e gostaria que ele retribuísse esse sentimento, mas ela não tinha coragem de se declarar, tinha medo de ser rejeitada e motivo de piada. Ela preferia a dúvida a uma certeza, o que era um erro.

Ao pensar nisso começou a chorar e chorou o resto da noite, até cair no sono.

No seguinte dia ela acordou com dor de cabeça de tanto chorar. Olhou para o relógio e viu que faltava quase meia hora para que este despertasse. Virou-se para o outro lado da cama e pensou nas lembranças do dia anterior, quase começou a chorar de novo. Tinha dúvida se iria para a escola ou ficaria em casa. Não podia faltar a aula, havia uma prova a ser feita e era uma prova importante, além de não ter nenhum motivo para dar a Joseph para faltar à escola. Não tinha jeito, teria de ir de qualquer maneira.

Ela se levantou e foi direto para o banheiro tomar um banho quente que a fizesse esquecer os problemas. Depois disso desceu pôs o café da manhã na mesa e logo viu Joseph descer alegremente.

– Ah! Você já preparou o café? Que bom, mas eu só vou tomar uma xícara – ele havia conseguido o emprego de recepcionista num hospital próximo. – Você pode lavar a louça depois que terminar? Eu vou sair agora.

– Ah, sim, tudo bem. – respondeu Eve.

– Então ta, tchau.

– Tchau.

Enquanto comia, Eve pensava em alguma maneira de pegar seu diário de volta. Pensou em enfrentar Kevin e Lewis, sem medo. Juntar toda a coragem que existia nela e pedir o diário de volta com cara mais séria do mundo.

Depois que comeu, foi lavar a louça. Quando terminou olhou para o seu relógio de pulso. Ainda era cedo, podia ir para a escola andando. Então, pegou a mochila de lona e saiu de casa.

Assim que chegou a escola viu Adam e logo se escondeu atrás de uma árvore. Esperou ele entrar, depois entrou também e foi direto para a sala da profª de Inglês. Sentou na sua carteira e ficou esperando o sinal tocar.

Quando o sinal tocou demorou um pouco para a profª chegar, enquanto isso os alunos ficaram conversando. Assim que ela chegou os alunos pararam de conversar e ela disse:

– Hoje, como eu já havia dito, haverá um teste. Eu espero que vocês tenham estudado, porque esse teste é muito importante para a nota final... – ela fez o sermão que sempre fazia antes de uma prova ...agora eu quero que vocês peguem apenas o necessário para fazer a prova e ponham em cima da mesa.

Eve fez a prova tranquilamente, Inglês era uma matéria fácil para ela. Depois houveram mais outras aulas até o intervalo. Ela passou o intervalo inteiro evitando Adam, queria encontrar Kevin e Lewis sozinhos. O sinal tocou e Eve teve de voltar para a aula.

Durante a aula de matemática Eve estava pensando em desistir, já que pegar o diário de volta não mudaria o fato de que Adam sabia.

Ela estava devaneando, pensando se Adam gostasse dela do mesmo jeito que ela gostava dele, até ser interrompida por sua amiga Helena.

– Alô? – Helena passou a mão na frente do rosto de Eve, para que ela parasse de olhar fixamente para a janela – Eve, você está me ouvindo?

– Hã? O que? – disse Eve saindo do transe.

– Você ouviu o que o professor disse? Trabalho em dupla. Eu e você?

– Ah, claro! Você é a minha única amiga, com quem mais eu faria? – disse Eve com um sorriso e Helena retribuiu este.

Helena era a única e melhor amiga de Eve, elas sabiam tudo uma da outra e compartilhavam tudo também. Ela tinha estatura média, era bonita, tinha o cabelo preto mais ou menos na altura dos ombros e tinha os olhos verdes. Helena tinha mais amigos do que Eve e também era mais popular do que ela, mas Eve não se importava com o que os outros pensavam ou deixavam de pensar sobre ela. Helena sabia que Eve amava Adam e dava força para que a amiga contasse isso a ele, mas Eve tinha medo. Também sabia tudo que estava escrito no diário dela, a final ela era sua melhor amiga.

– Então, conta o que aconteceu? – perguntou Helena enquanto tirava o livro da mochila.

– Como assim, o que aconteceu?

– Você estava olhando fixamente para a janela, como se estivesse pensando em alguma coisa importante.

– Ah, sim. É que ontem Kevin e Lewis do último ano roubaram meu diário. – contou Eve com uma expressão triste. Helena levou a mão à boca e arregalou os olhos – e o pior de tudo é que Adam chegou e eles contaram que eu escrevi sobre ele no meu diário. Eu saí correndo antes que eles começassem a ler para o Adam o que eu escrevi.

Quando Eve terminou de falar, Helena estava boquiaberta.

– Mas, mas e agora? – perguntou Helena.

– Bem, eu pensei em encontrar com o Kevin e o Lewis e pedir meu diário de volta, com uma expressão séria – respondeu Eve.

– Mas e se o Adam já tiver lido?

– A única coisa que me resta é a esperança de que ele não tenha lido. Mas eu penso, mesmo que ele não tenha lido, Kevin e Lewis devem ter contado a ele o que leram. – disse Eve sem esperança.

– Ei, vocês duas, Walker e Gray, parem de conversar e façam já o trabalho! – Gritou o professor irritado.

– Sim professor. – responderam as meninas abaixando as cabeças para olhar os livros.

Depois que o sinal tocou os aluno deram a folha do trabalho para o professor e ele disse enquanto os alunos saíam:

– Não se esqueçam que a próxima semana é a última do ano letivo, então não faltem, pois será entregue o boletim.

As meninas saíram da sala conversando:

– Eve, tem certeza de que você não quer que eu fique junto de você quando for falar com eles?

– Tenho Helena. Vai ser melhor, vai mostrar que eu estou só e corajosa. Além do mais, eu sei que você tem um compromisso importante com os seus pais agora depois da escola.

– Ah, é, verdade – disse Helena. – Então está bem, boa sorte. Eu tenho que ir, se não vou chegar atrasada. Beijo, tchau.

E Helena saiu correndo. Eve foi andando devagar até chegar à parte externa da escola, procurou por Kevin e Lewis, mas antes de encontrá-los ouviu uma voz bonita e familiar chamar seu nome:

– Ei, Gray? – chamou Adam. – Eve?

Eve fechou os olhos ao ouvir a voz dele e virou-se rapidamente para que ele pudesse falar com ela. Quando ela se virou o viu com seu diário na mão. Agora que estavam perto um do outro, Eve observou Adam melhor: ele era mais bonito de perto, era alto, tinha o cabelo escuro, tinha os olhos azuis e era tão branco quanto ela, mas tinha uma pele de dar inveja. Nesse mesmo instante em que olhou para o rosto dele, ela esqueceu como se respirava.

– Você está bem? – Perguntou Adam.

– Estou – respondeu Eve, lembrando-se de respirar.

– Eu vim devolver isto para você.

– Você leu, não foi? – Disse Eve olhando para baixo.

– Não, não, eu não li. Eu nunca faria isso, mas os meus amigos me contaram que você escreveu sobre mim. Isso é verdade?

– Sim – disse Eve abaixando ainda mais a cabeça.

– E eu posso saber o que foi? – Disse Adam curioso.

– Eu acho melhor... – Eve não sabia o que responder. Se contasse ele ficaria sabendo e ela não sabia qual seria a reação dele, se dissesse “não” ele deduziria o que era. – Eu não sei o que responder.

– Apenas diga a verdade – disse Adam com a voz mais doce do mundo.

– É complicado dizer isso, mas eu não consigo mentir para você. Por favor, você jura que não vai contar para ninguém?

– Juro.

– A verdade é que... eu... amo você – e uma lágrima escorre pelo rosto de Eve e ela inclina a cabeça para baixo.

– Bem, essa situação passou a ser difícil para mim também agora – disse ele com um sorriso sarcástico.

– Eu sabia que isso ia acontecer, eu vou embora – disse Eve virando-se.

– Não, espera! – Disse ele segurando delicadamente o braço dela. – Eu não quero que isso termine assim. Olha eu tenho namorada, é claro que ela é um pouco chata, arrogante e convencida às vezes, – essas palavras fizeram Eve sorrir – mas isso não vem ao caso. Eu ainda gosto dela.

– Eu entendo.

– Podemos ser pelo menos amigos?

– Claro.

– Adam, meu amor, você está aí – disse Stacy, a namorada de Adam. Ela empurrou Eve para o lado para poder beijar Adam. – O que está fazendo aqui? Eu procurei você pela escola inteira.

– Eu estava conversando com a Eve – disse Adam.

– Eve? Ah, oi Eve. Adam, vamos para o shopping, eu preciso comprar aquele sapato que lhe falei. – Stacy tinha o corpo de uma modelo, o cabelo louro e sempre usava sapatos de salto alto na escola. – Tchau Eve.

– Tchau Eve, depois conversamos. – Disse Adam.

– Tchau.

Eve ficou olhando os dois irem embora e por um momento ficou completamente parada, mas depois percebeu que tinha de ir para casa.