sábado, 6 de fevereiro de 2010

Adam & Eve - Capítulo 7


Eve congelou ao ouvir isso. Realmente Adam a surpreendeu dessa vez. Ela não sabia o que dizer. Primeiramente pensou em “mas já?”, mas sabia que soaria grosseiro.

– S-sério? – Ela gaguejou.

– É, eles querem te conhecer – ele tinha um sorriso tímido no rosto.

– Você não contou a eles sobre Joseph, contou?

– Não, por enquanto. Acho que eles não entenderiam a nossa situação – o sorriso sumiu do rosto dele ao lembrar dessa parte da vida da namorada.

– Hmm... – ela sentiu alívio em saber que ele não havia contado, mesmo que ele tenha dito “por enquanto”. Ele tinha razão, provavelmente os pais não entenderiam – Então... vamos?

Adam assentiu e levou Eve a sala de estar.

Ao chegarem lá ela estava tão nervosa por conhecer os pais dele que tinha medo de levantar o rosto. Já Adam não estava muito nervoso, tinha quase certeza de que sua mãe gostaria de Eve por ela ser muito diferente de Stacy.

– Mãe, pai, esta é Eve. Eve, esses são meus pais. – Os pais de Adam ficaram disfarçadamente paralisados ao ouvir o nome dela. Ele estava com as mãos nos ombros de Eve, ela sorriu timidamente apenas com os lábios. Ao olhar para frente viu dois adultos de meia idade bem arrumados, parecia ser uma ocasião especial. – Sente-se – ele disse, lhe mostrando uma poltrona vazia.

Ela se sentou, ainda nervosa, e percebeu que ainda não havia dito nada, achou que estava sendo mal-educada e resolveu falar enquanto Adam andava para se sentar ao seu lado.

– Prazer em conhecê-los.

– Igualmente – disse a Sra. Williams, com um olhar de avaliação quase imperceptível.

– Prazer em conhecê-la também... hmm... Eve? – Disse o Sr. Williams num tom curioso.

– Pai! – Adam o repreendeu.

– Desculpe. Não pude deixar de notar a coincidência.

Eve ainda estava nervosa e a percepção dos pais de Adam da, de fato, coincidência entre os nomes deles não a deixou muito confortável.

– Bem, eu lembro de você, estava junto com o amigo do Adam quando ele veio aqui, não foi? – ele continuou num tom mais amigável do que curioso.

– É... – Eve respondeu.

– Gostaria de beber alguma coisa? Água, suco...? – Perguntou a mãe de Adam, gentilmente.

– Ah... água – ela respondeu.

A Sra. Williams se levantou e rapidamente trouxe um copo d’água. Eve agradeceu e ela perguntou enquanto Eve tomava um gole da água:

– Então, como vocês se conheceram?

Eve ficou contente por estar bebendo água naquele momento, assim Adam poderia responder a primeira pergunta.

– Ela estuda na minha antiga escola, mãe, nos conhecemos no ano passado quando um dos meus amigos... – ele hesitou, ela o olhou ainda com o copo encostado em sua boca – fez uma brincadeira de mal gosto com ela e eu fui pedir desculpas.

Ele não disse exatamente o que aconteceu, mas estava dizendo a verdade.

– Hmm, então depois disso vocês conversaram e começaram a namorar. – Supôs a mãe de Adam.

– Não, na verdade nós só estamos namorando há dois dias – disse Eve, dando uma risada casual.

– É, eu perdi muito tempo... quero dizer, nós, nós perdemos tempo – gaguejou Adam.

– Por que não falamos de algo menos pessoal? Hmm... Eve, Adam me disse que está lhe ensinando a tocar piano. Você pretende trabalhar com isso? – Perguntou o Sr. Williams, desviando um assunto possivelmente constrangedor.

Eve ficou feliz pelo pai de Adam mudar o rumo da conversa.

– Não, eu pretendo trabalhar com arquitetura ou decoração, ou os dois – ela sorriu –. Música é fascinante para mim, principalmente o piano, mas é só diversão – ela fez uma pausa. – Falando em decoração, eu tenho que dizer: a sala do piano é absolutamente linda, quem a decorou? – perguntou ela curiosa.

– Obrigada, eu a decorei. Tentei aplicar o Feng Shui, com os pequenos vasos de flores, mas não sei se fiz certo, não tenho muita experiencia com Feng Shui... Adam não contou que sou decoradora? – Disse a Sra. Williams.

– Não, ele não disse. Nós não conversamos muito sobre vocês. – respondeu Eve.

– Eu creio que falar sobre os pais não é um dos assuntos preferidos dos jovens, a não ser para reclamar de nós – disse o pai de Adam, sorrindo.

Eve riu novamente.

– Então acho que Adam já não é mais tão jovem, não o ouvi reclamando de vocês.

– Vocês devem ter conversado pouco, ele discutia tanto comigo... – disse a mãe de Adam.

– Mãe, pai, vocês tem que admitir que não discutimos há bastante tempo... – Adam disse em defesa.

– É, filho, agora que falou, percebi que tem razão... – disse o Sr. Williams um pouco pensativo. – Ah! Você falou em arquitetura, sabe que trabalha-se muito com números nessa área, não é? – Perguntou ele, agora se referindo a Eve.

– Sim. Eu sou uma boa aluna, tenho facilidade com os números – ela sorriu –, apesar de não gostar muito da escola.

– Não se preocupe, você está dentro da normalidade – ele sorriu.

Adam estava contente em ver sua namorada menos nervosa. Namorada. Por mais de uma vez essa palavra o incomodava, ele não a achava exata para definir o que Eve significava para ele, não saberia explicar exatamente. Ela era tudo e um pouco mais, era como se fosse parte, não só de sua vida mas, dele. Por mais que fosse estranho pensar assim, já que ele só começou a conhecê-la de verdade há poucos dias, era assim que ele pensava.

– Lembrei de uma coisa, Eve cozinha muito bem – disse ele.

– Ah, Adam você nunca provou minha comida – disse ela.

– Não, mas Helena disse isso e eu acredito nela.

– Helena é suspeita para falar... – Eve disse modestamente.

– Não é não. Ela disse que você faz uma torta de maçã deliciosa – disse Adam.

– Ela só disse isso porque eu fiz torta de maçã no aniversário dela – ela disse cética.

– Vejo que está no caminho certo, Eve – disse a Sra. Williams mais familiarizada com a namorada do filho.

– Como assim “caminho certo”? – Perguntou Eve confusa.

– Os homens da família gostam de comer bem – respondeu ela.

– Mãe, falando assim até parece que nós dois comemos o tempo todo – Adam disse num tom repreensívo e envergonhado.

– Não é isso, mas vocês sempre tem uma crítica a fazer sobre comida.

– Bem, isso é verdade – acrescentou o Sr. Williams.

– Meu Deus, estou namorando um crítico gastronômico, nunca vou cozinhar para você Adam – brincou Eve.

Todos riram por um longo momento e o silêncio foi se estabelecendo lentamente. Antes que este se tornasse constrangedor Eve olhou para Adam e apertou sua mão, que estava com os dedos entrelaçados nos dela.

– Bem, eu prometi a Eve que hoje a ensinaria alguma coisa sobre piano, é melhor nós irmos antes que fique tarde – disse ele antes de se levantar.

Quando Eve se levantou percebeu que ainda estava com o copo na mão, ficou parada pensando em levar o copo até a cozinha, mas não sabia onde ela ficava, até que a Sra. Williams lhe estendeu a mão dizendo:

– Pode me dar, querida.

– Obrigada – disse Eve com um sorriso –, foi muito bom conversar com vocês – ela acenou enquanto saía do cômodo e os pais de Adam acenaram também.

– Ela parece ser uma menina legal, um pouco tímida, mas isso não parece atrapalhar a sua vida... – o Sr. Williams disse a esposa, pensativo.

– É, ela é muito diferente da Stacy. Mas duas coisas me deixaram intrigada: como eu contei à ela sobre as minhas discussões com Adam sem perceber? E como ele pode ter se apaixonado por duas garotas tão diferentes?

– Eu achei mesmo estranho quando você falou sobre isso... Ah, talvez elas não sejam tão diferentes, Stacy era muito inteligente, você sabe, e Eve não parece ser menos do que ela e é até mais responsável, ela pensa no futuro. Talvez elas tenham outras coisas em comum.

– Hmm... a Stacy também parecia ser uma boa menina quando a conhecemos, ela não era tímida, mas...

– Acho que não devemos ficar pensando muito nisso, Adam deve saber o quão boa ela é para ele. Se ela fosse tão igual a Stacy quanto eu sei que você está pensando, ele não estaria namorando com ela, não é?

– Hmmm... – a Sra. Williams olhou para o marido por dois segundos – tem razão.

Enquanto isso, Adam levava Eve para a sala do piano. Ele sentia que ela ainda estava um pouco tensa e parecia que respirava fundo a cada minuto.

– O que foi? – Ele perguntou.

– Nada, só acho que você deveria avisar quando quisesse ver meu coração saindo pela boca – ela respondeu num tom sarcástico. Adam riu.

– Não foi tão ruim assim...

– Claro, você não estava no meu lugar.

Eles haviam chegado à sala do piano.

– Ah, tenho certeza de que eles gostaram de você, meu pai falava com você como se te conhecesse há um ano e minha mãe já te contou um defeito e um segredo de família...

– Defeito e segredo?

Os dois sentaram no sofá em frente a lareira.

– É, “críticas gastronômicas” – ele fez as aspas com as mãos – e as nossas brigas, que não tem acontecido ultimamente.

– Ah, Adam, todo mundo critica comida, as pessoas sabem o que gostam de comer e o que não gostam, isso é normal... a não ser que vocês falem sobre tudo o que comem: café, almoço, jantar. Nesse caso seria mesmo estranho e chato – ela disse rindo.

– Não, não, acho que é moderadamente como você diz – ele riu –, mas ela convive tanto tempo comigo e com o meu pai que já deve estar farta de ouvir isso, não sei... – ele terminou num tom triste.

– E você disse brigas, por que brigar seria um segredo? Todo mundo discute e todo mundo sabe disso.

– É, eu sei. É a minha mãe outra vez – ele virou os olhos para cima, – ela fica tentando manter essa imagem de família perfeita para todo mundo, até para as pessoas que sabem que discusões em família são normais. Na verdade isso foi o que mais nos fez brigar, mas não tem acontecido mais, porque eu não vou mais sempre que os meus pais visitam os amigos.

– Todo mundo gostaria de ter uma família perfeita, Adam – Eve disse num tom consolador.

– Eu sei disso, mas eu odeio quando ela faz esse teatrinho e quer que eu faça também. Parece que ela não percebe que isso só exite em fotos, a vida real é diferente. A única pessoa para quem ela admitiu que nós brigamos foi você. Eu achei estranho quando ela falou, mas agora acho que pode ser uma coisa boa.

– O que exatamente?

– Acho que ela pode estar considerando você parte da família – Adam sorriu.

Eve achou engraçado.

– Adam, não seja bobo, é claro que não. Ela acabou de me conhecer.

– Às vezes o subconsciente manda mais em nós do que a mente consciente.

– Só às vezes... Mas, voltando ao assunto anterior, avise com bastante antecedência quando os seus pais quiserem falar comigo outra vez.

– E perder a visível tensão no seu rosto? Sem chance – ele disse rindo.

– Pára de brincar – ela deu um tapinha leve no braço dele, – é sério – e tentou fazer uma cara séria.

– Está bem, eu aviso da próxima vez...

O silêncio se estabeleceu até Eve perguntar:

– A tensão fica mesmo tão visível no meu rosto?

– Muito pouco no seu rosto. Mas os seus músculos ficam muito... tensos. Seus ombros pareciam pedras e eu não sei se você percebeu, mas quando estávamos sentados você apertou a minha mão durante quase toda a conversa. Por que tanto medo dos meus pais?

– Você sabe que eu não sou uma pessoa que faz amigos novos o tempo todo, por que é difícil falar com pessoas estranhas. Mas hoje foi extremo. Eu não costumo pensar “o que eles vão achar de mim?” quando conheço pessoas novas, mas eles são os pais do meu namorado – ela deu ênfase as ultimas cinco palavras –, é diferente.

– Diferente como?

– É diferente porque... Nós conhecemos pessoas o tempo todo, mas não é por isso que ficamos amigos de todas essa pessoas. Se você não gostar de uma pessoa, ou vice e versa, você simplesmente muda o seu caminho para que não encontre com o dessa pessoa outra vez. Mas com os seus pais é diferente, porque namoros podem durar bastante tempo e podem virar casamentos, que podem durar uma vida inteira. Imagina se os seus pais não gostarem de mim, quando eu viesse aqui iria ficar aquele ar desconfortável, entende?

– Entendo... mas olha, se isso acontecesse, o que eu acho que não vai, nós poderíamos namorar escondidos, já estamos fazendo isso escondidos do seu padrasto mesmo...

– E as aulas de piano?

– É verdade, esqueci essa parte... – ele pensou por alguns segundos – Olha, eu te amo, você me ama também, estamos felizes e é o que importa, não é?

Eve sorriu.

– Falar é tão fácil... Por que quando você está sozinho comigo parece ficar totalmente fora da realidade?

– Porque às vezes você parece um sonho – ele acariciou uma das bochechas dela.

– Então acorda Adam, eu não sou a deusa grega que você está pensando.

– Ainda bem, porque se fosse todos iriam te adorar e você teria que dar atenção igualmente a todos. Mas como você não é, eu tenho exclusividade – disse Adam sorrindo.

– Que egoismo – ela riu.

– Só um pouquinho...

Adam se aproximou e beijou Eve. Outro beijo intenso, este durou bem mais que os outros. Eve se afastou dele um pouco e parou.

– Desculpe, fiquei sem fôlego – ela disse arfando.

– Tudo bem, mas você vai ter que se acostumar com isso – ele disse sorrindo.

– Eu percebi – disse Eve recuperando a respiração.

Eles ficaram em silêncio mesmo depois de Eve recuperar o fôlego, então Adam disse:

– Acho melhor irmos para o piano antes que fique tarde e você tenha que ir.

– Sim, mas antes eu queria perguntar: quando foi que você falou com a Helena para ela encher a minha torta de maçã de elogios outra vez?

– Na verdade eu não falei com ela, conversei com Alex ontem a noite e ele me contou que ela sempre dizia que a sua torta de maçã era a coisa mais deliciosa na face da Terra.

Eve riu.

– Ah, só a Helena mesmo... Bem, vamos para o piano, hoje eu aprendo alguma coisa.

Adam sorriu e os dois foram até o piano.


Desculpem a demora

É, eu sei que postei que o capítulo 7 não sairia hoje, mas vai sair sim. Talvez depois da maia-noite (não seria mas hoje), mas para mim é hoje, tecnicamente, por que eu não tenho noção de horário xD. Isso deverá ser consertado esta semana quando eu voltar à escola.
Outra coisa: eu ia mudar o tema do blog, porque duas pessoas tentaram comentar nos posts e não conseguiram. Eu achei que fosse por causa do tema, mas uma delas onseguiu comentar há pouco tempo, então não vou mudar (eu também não queria, porque gosto desse tema). Mas se tiver mais alguém que não consiga comentar me avise, talvez o problema seja mesmo o tema.
A seguir: capítulo 7.