quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Adam & Eve - Capítulo 6


Alex e Helena ficaram os olhando de longe.

– Ai, que fofo! Nossa, que beijo é esse?! Por que você nunca me beijou assim? – Disse ela sarcasticamente.

– Bom, nós nunca ficamos tanto tempo sem nos ver, também nunca tivemos nada que impedisse o nosso namoro e... – disse ele sem perceber o tom de sarcasmo dela.

– Alex, era brincadeira. – Ela sorriu.

O beijo ficou mais lento, Adam abraçou Eve e disse:

– Eu nunca mais quero ficar longe de você.

– Desculpe por não ter aceitado naquele dia, eu fui tola...

– Não precisa se desculpar, você precisava pensar. Eu é que devia me desculpar por não aceitar a sua decisão e vir aqui tentar mudá-la.

– Não precisa também, eu pretendia ir a sua casa depois da escola. – Ela disse com um sorriso. Adam sorriu também. Eles ficaram se olhando durante alguns segundos, então Adam disse:

– Eu quero te mostrar uma coisa no parque.

– O que?

– É uma surpresa – ele disse sorrindo.

Ela acenou para Alex e Helena. Adam se ofereceu para carregar a mochila de Eve, mas ela recusou, não estava tão pesada. Ele pôs o braço envolta dos ombros dela e foram andando até o parque. Eve perguntava o que ele queria mostrá-la, mas ele não contou, não quis estragar a surpresa.

Ao chegarem lá, Eve se lembrou de sua infância, da época em que sua mãe não havia partido. Hoje haviam poucas crianças brincando no parque. Adam estava a levando em direção às árvores. Ao chegarem próximo a uma delas, Eve viu o desenho de um coração com as letras A e E dentro.

– Sabe, esse parque é conhecido pelos casais desenharem isso nas árvores. – Adam tinha um leve sorriso no rosto.

– Que bonitinho. – Ela sorriu. – Não sabia que você fazia esse tipo.

– Eu também não sabia, mas me empolguei na segunda-feira, antes de falar com você.

Eve se lembrou daquele dia horrível e olhou para baixo pensativa, mas Adam a convidou para sentar-se próximo a árvore “deles” e ela se sentou encostada nela.

– Então, o que fez você mudar de opinião? – Perguntou ele.

– Essa noite eu tive um sonho, – ela contou o sonho exatamente para ele. – Esse sonho foi tão real, eu fiquei com medo, não queria perder você. Percebi que o que eu tinha feito não era bom para nenhum de nós. – Ela fez uma pausa. – Ai, não dá para eu ficar encostada nessa árvore.

– Por quê? – Ele perguntou preocupado.

– Eu me machuquei na macieira quando nos beijamos na escola. – Ela pôs uma das mãos nas costas e tentou sorrir.

– Desculpe, eu não... Espera, tive uma ideia.

Ele sentou-se de costas para a árvore e pediu que Eve se deitasse no seu colo, com a cabeça apoiada no seu peito.

– E agora, melhorou? – Perguntou Adam sorrindo e mechendo no cabelo dela.

– Bem mais confortável. – Ela sorriu.

– Não está doendo muito, está?

– Um pouco, mas não vai durar muito tempo. Acredite, eu entendo de dores.

– Como assim?

– Ah... cólicas. – Respondeu ela a primeira desculpa que lhe veio a cabeça. Ele sorriu e ela ficou feliz por ele não perceber que a resposta era mentira.

– Eu não queria que o nosso namoro começasse com tanta dor. Primeiro, seu padrasto não quer que você namore e agora que estamos juntos eu te machuquei com um beijo. – Disse ele com um olhar triste e para baixo, enquanto acariciava a mão dela.

– Adam, eu já disse, vai passar. Não se preocupe, eu sei que não foi sua intenção. Pensa pelo lado bom, seria pior se você tivesse me machucado emocionalmente.

– Está bem, vou tentar não pensar mais nisso. – Ele fez uma pausa para pensar no que dizer. – Mudando de assunto, acho que você já pode me contar o por quê do seu padrasto não querer que você namore.

Ela respirou fundo e começou a contar a história que conhecia sobre sua mãe e como ela conheceu Joseph, geralmente se referindo a ele como pai.

– ...Um dia quando eu tinha oito anos, quando acordamos, ela não estava em casa. Ele ficou desesperado, mas quando chegou ao quarto encontrou uma carta e depois de lê-la me disse que ela havia ido embora com outro cara e que, provavelmente, esse cara era o meu pai biológico. Depois ele se trancou lá e eu o ouvi chingá-la com um monte de palavrões. Ele passou os dias seguintes resmungando e dizendo que ela só tinha ficado com ele durantes esses anos para que ela pudesse fugir com esse cara, sem precisar cuidar de mim.

Depois disso começaram as brigas e o alcoolismo. Ele gastou todo dinheiro em bebida e me pôs para cuidar da casa. Quando ele percebeu que não tinha mais nenhum centavo, nós passamos a sobreviver com o dinheiro que tinha num cofrinho, eu só gastava meu dinheiro em doces naquela época, então tinha bastante dinheio lá. Um pouco antes do dinheiro acabar ele conseguiu um emprego. Com o tempo e as brigas eu perdi o costume de chamá-lo de pai e passei a chamá-lo pelo nome, quando ficamos um bom tempo sem brigar eu até o chamo de pai, mas isso não acontece muito.

É por isso que ele não quer que eu namore. Não quer que eu acabe engravidando cedo. Mesmo com isso tudo eu não guardo mágoas da minha mãe, procuro lembrar dos momentos bons da minha infância. Enquanto esteve comigo ela foi uma boa mãe. – Ela terminou com um sorriso, mas tristeza nos olhos.

Adam ficou calado por um tempo, estava pensando em como dizer o que pensava.

– Nossa, nunca imaginei que a sua vida fosse assim. Então como você contou a ele que ia namorar comigo?

– Eu não contei. Tomei essa decisão mas ele não pode saber disso.

– Mas e se eu fosse na sua casa pedir a ele...?

– Acredite em mim, ele não aceitaria de jeito nenhum. Quando eu estava na 7ª série eu gostava de um garoto e ele acabou descobrindo. Sabe o que ele disse?

– Não, o que?

– Ele disse que se eu começasse a namorar esse garoto, ele faria uma coisa com aquele menino que ele teria medo de encontrar comigo no corredor da escola. – Ela omitiu a parte em que Joseph havia comprado uma arma no dia seguinte. Se virou de frente para Adam e começou a falar novamente – Se você fosse lá em casa pedir isso a ele, provavelmente ele te espancaria ou poderia fazer algo pior e no dia seguinte me obrigaria a mudar para outra cidade com ele. Eu não quero que você se machuque por minha causa. – Ela estava acariciando o rosto dele e o olhando com esperança.

– Está bem. – Ele beijou a mão dela. – Então, nós vamos namorar escondidos? – Deu um sorriso.

– É. – Ela sorriu, lhe deu um leve beijo e se virou para frente novamente.

Ele a abraçou e disse:

– Contanto que você esteja comigo, para mim está ótimo. Mas nós não vamos nos ver pouco? Já sei, nós podemos nos ver todos os dias depois da escola.

– Não vamos enjoar um do outro rápido?

– Acho que não.

– Nós teremos de ser bem criativos. – Ela deu ênfase ao “bem”.

– Ah! Lembrei de uma coisa. Não vou poder te ver amanhã, tem umas coisas da faculdade para resolver.

– Tudo bem.

Eles ficaram em silêncio, enquanto Adam acariciava as mãos de Eve. Ele disse:

– As sua mãos são tão macias, parecem até almofadas. – Essa frase fez ela dar uma gargalhada. – É sério, você nunca reparou nisso.

– Não. – Ela disse ainda com um sorriso. – Podem ser macias, mas tem muitas marcas. Olhe, parece até que eu trabalhei numa lavoura. E os meus dedos são curtinhos.

– Você pode dizer o que quiser, eu adoro as suas mãos, são lindas. Você não gosta delas? Olha para as minhas, se serve de consolo.

– Adam suas mãos não são feias, deixe-me ver. – Ela se sentou de frente para ele. – São até muito bonitas para um homem, olhe. – Ela mostrava a mão dele como se fosse um produto à venda.

Ele estava rindo. Resolveu entrar na brincadeira e disse com um sorriso:

– Está bem, eu compro. Quanto custam as mãos do Adam?

– Para você, – ela fez uma cara de pensativa – apenas 299 beijos.

– Eu posso começar a pagá-las agora?

– Claro.

Adam começou a beijá-la e a contar. Um tempo depois, os dois caíram deitados na grama rindo.

– Aquelas crianças ali devem estar pensando “quem são aqueles dois malucos?” – Ela disse ainda rindo.

– Que crianças? – Perguntou ele enquanto a ajudava a levantar.

– Aquelas nos... Onde estão as crianças? – Ela se assustou ao ver os brinquedos vazios. – Que horas são? 17:30! Precisamos ir embora.

– Posso carregar sua mochila agora? Lembre, suas costa. – Ele disse já com a mochila na mão.

Ela ia dizer não, mas achou que ele tinha razão, suas costas ainda estavam doendo, então aceitou. Eles conversaram durante o caminho, perceberam que tinham mais em comum do que imaginavam: gostavam de ouvir música alta, adoravam filmes infantis e de terror e odiavam certas matérias da escola. Quando chegaram a casa de Adam ele disse:

– Sabe, normalmente é o cara que leva a garota para casa.

– É, mas o nosso namoro não é exatamente o que chamam de normal. É melhor eu ir logo, Joseph não chegará tarde hoje.

– Está bem. – Ele encostou levemente seu lábios nos dela e devolveu sua mochila. – Ah! Sábado, 15 horas.

– Você acha que eu esqueceria? – Ela sorriu. – Tchau.

– Tchau.

Adam esperou Eve não estar mais ao alcance de sua visão para entrar. Antes de subir para o quarto, passou na cozinha para avisar a sua mãe que havia chegado.

– Oi mãe, cheguei. O que vamos jantar?

– Oi, onde esteve o dia todo? Pensei que fosse sair mais cedo da faculdade.

– Eu saí, mas eu fui resolver uns assuntos pendentes.

– Assuntos pendentes? – Ela ficou preocupada por ele não dizer exatamente o que era.

Ele apontou para o lado esquerdo do peito, olhando para baixo. Estava um pouco sem jeito de dizer isso para a mãe.

– Ela não é como Stacy, é? – A Sra. Williams sorria.

– Não, ela é completamente diferente. Ela é tão... – Adam ficou olhando para o vazio pensando em Eve.

– Quando vai nos apresentá-la?

– Ah, sábado, ela vem aprender piano comigo.

– Você está namorando uma aluna?

– Mãe, ela tem 17 anos e eu não trabalho na escola dela. Nós temos quase a mesma idade e...

– Está bem, eu vou parar de perturbá-lo com isso. Pode subir, quando o jantar estiver pronto eu chamo você. – Ela deu um beijo no rosto do filho e ele subiu.

Quando Eve chegou em casa deixou a mochila no quarto e foi fazer o jantar. Depois de jantar e lavar a louça, subiu para o quarto para escrever no diário, felizmente Joseph não percebeu sua anormal felicidade. Escreveu tudo o que aconteceu desde que saiu do prédio da escola. Depois fez o dever de casa e escovou os dentes antes de dormir.

No dia seguinte, Adam foi para a faculdade, mas seus pensamentos estavam em Eve. Teve um pouco de dificuldade para se concentrar no trabalho que estava fazendo com os colegas de turma, mas conseguiu fazê-lo.

Antes mesmo da primeira aula começar, Helena e Alex já estavam querendo saber como foi o dia anterior de Eve. Ela achou engraçado o entusiásmo de Alex ao perguntar, era como se ele fosse uma menina numa roda de fofocas, mas depois lembrou que ele também era amigo de Adam e devia querer que os dois se dessem o melhor possível. Mas assim que ela começou a falar o sinal tocou.

Alex e Eve tinham a primeira aula de sexta-feira juntos, Helena ficou com inveja porque o namorado saberia antes dela o que aconteceu no dia anterior com a amiga. Eve contou a Alex durante a aula como foi o dia com Adam. Ele se surpreendeu quando ela disse que Adam havia desenhado um coração numa árvore.

– Não sabia que Adam fazia esse tipo, romântico.

– Pois é, nem eu. É bom saber disso.

– Helena vai dizer que ele é gay quando você contar isso à ela.

Eve segurou a risada, do contrário a sala inteira saberia que eles estavam conversando.

– Ela não vai dizer isso.

– Vai sim, você sabe que ela não faz o tipo romântica, por isso nós dois nos damos muito bem. Eu não sou aquele cara que compra flores e bombons.

– Eu sei... Mas acho que ela não vai dizer que o Adam é gay.

– Pode apostar que vai. – Alex sorria.

Ela continuou a contar como foi o resto do dia para ele. Depois os três se encontraram no intervalo e Eve contou a Helena como foi o dia de ontem. Alex tinha razão, quando Eve contou sobre o coração na árvore imediatamente Helena disse que Adam era gay. Alex não conseguiu conter o riso, ouvi-la dizer isso era mais engraçado do que imaginar. Eve riu também. Quando ela contou sobre a brincadeira com as mãos de Adam, Helena disse com um sorriso malicioso:

– Hum... As brincadeirinhas já começaram. Não vai demorar muito para começarem as brincadeiras maliciosas também.

– Helena, só você para pensar nisso. – Eve fez uma cara de quem não gostou muito da brincadeira.

– Só estou sendo realista. Adam é um homem, e que homem, – ela cobriu o lado direito da boca para que Alex não escutasse – e você é uma mulher atraente para ele.

– Ele nunca disse isso.

– E precisa? Aquele beijo de ontem já disse tudo. Mas foi só um comentário, achei que você soubesse que essas brincadeiras vão acontecer.

Helena tinha razão, apesar de Eve ficar um pouco assustada com essa ideia. Ela não tinha medo das brincadeiras maliciosas e sim ao que a brincadeiras poderiam levar. Eve ainda não estava pronta para sua primeira vez, mesmo com Adam ao seu lado. Antes que ela pudesse comentar sobre isso com Helena, o sinal tocou e cada um deles foi para sua respectiva aula.

Ao chegar em casa Eve não teve nada de diferente em sua rotina. Já Adam, ao invés de subir para o quarto como sempre, ficou na sala de estar lendo umas revistas sobre uns programas de computador que lhe interessavam, trazidas pelo seu pai.

Na manhã seguinte, depois do café da manhã, ele arrumou o quarto que estava bem bagunçado, isso porque haviam três semanas que ele não arrumava. Sua mãe sempre dizia que ele deveria arrumá-lo toda semana, pela facilidade que ele tinha para bagunçar.

Em casa, Eve teve a rotina de todo sábado: tomar café, limpar a casa e fazer o almoço. Depois disso viu um pouco de televisão e foi se arrumar para ir a casa de Adam. O tempo estava normal, não estava calor mas havia Sol. Ela escolheu uma blusa clara de manga curta, um jeans não muito escuro e pôs o perfume de frutas vermelhas. Em seguida foi para a casa do namorado.

Adam ouviu a campainha tocar e foi atender. Os dois se cumprimentaram com um leve beijo e ele convidou ela a entrar.

– Pronta para a sua primeira aula oficial de piano. – Perguntou ele.

– Prontíssima. – Ela respondeu sorridente.

– Ótimo, mas antes eu queria que você conhecesse os meus pais.

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